Divulgação do Relatório do IPCC: semana decisiva para o clima
((o))eco - 23/09/13
Começou hoje (23) a reunião em Estocolmo com representantes de governos de 195 países, e que até sexta (27) aprovará o texto final do primeiro volume do Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O último relatório foi publicado há 6 anos.
O relatório foi elaborado nos últimos 4 anos. Cerca de 830 cientistas de vários países participaram da elaboração do documento que traz uma síntese sobre a situação do clima no mundo.
Em entrevista a Bernardo Esteves, o climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Inpe e secretário do Ministério da Ciência, afirmou que o relatório está “devastador”. “Não dá um passo para trás em relação à versão anterior e ainda vai mais longe.” Já o físico Paulo Artaxo, da USP, adiantou que houve um aumento no grau de certeza da influência humana no fenômeno, conforme declarações reproduzidas na reportagem “Clima malparado”, na piauí de setembro.
De acordo com a Folha de S. Paulo, o relatório técnico do painel já está pronto e deverá ser publicado na próxima sexta (27):
23/09/2013 - 03h00 FOLHA DE SÃO PAULO
Análise: Com IPCC na defensiva, novo relatório ainda tem combustível para polêmica
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MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
Seis anos e sete meses atrás, quando lançou o documento "Mudança
Climática 2007: A Base da Ciência Física", a reputação do IPCC estava no
auge. Naquele mesmo ano viria o Prêmio Nobel da Paz, como
reconhecimento pela façanha de impor o tema da mudança do clima à agenda
política mundial.
DE SÃO PAULO
A autoridade do grupo formado pela ONU 18 anos antes era tamanha que a climatologista americana Susan Solomon, coordenadora do texto de 21 páginas, deu o passo arriscado: na entrevista coletiva em Paris, repetiu com ênfase a avaliação de que o aquecimento global era "inequívoco".
Brasil ataca hiato do aquecimento global
Foi a resposta retórica e política daqueles cientistas à repercussão então alcançada pelo grupo dos chamados "céticos" (ou negacionistas). Depois disso, o IPCC nunca mais seria o mesmo.
Em novembro de 2009, um mês antes da Conferência do Clima de Copenhague, hackers invadiram computadores de uma universidade britânica e surrupiaram mensagens eletrônicas entre climatologistas do IPCC que permitia a impressão de que houvera manipulação de dados.
Os autores foram inocentados, mas uma brecha se abrira no prestígio do painel. Ela se agravou dois meses depois, quando veio à tona que o relatório continha erro grosseiro sobre derretimento de geleiras no Himalaia.
Desde então, o IPCC se manteve na defensiva. Criou critérios mais rígidos sobre o tipo de dados científicos que poderiam fundamentar suas previsões. O resultado desse retraimento transparecerá no "Quinto Relatório de Avaliação" (AR5), cujo "Sumário para Formuladores de Políticas" entra agora em sua fase final de redação.
POLÊMICAS
Parece pouco provável que o sumário repita juízos de valor como o contido no adjetivo "inequívoco". Ainda assim, o documento contém combustível para polêmica.
A primeira coisa a prestar atenção no relatório, além da aparente redução na taxa de aquecimento, é a maneira pela qual lidará com a situação da calota de gelo sobre o oceano Ártico. O IPCC deve reafirmar como muito alta a probabilidade de que ela continue a encolher a cada verão do hemisfério Norte.
O problema é que, neste final do verão setentrional, o gelo no polo Norte se estende por uma área 50% maior (5,1 milhões de km2) do que há um ano. Em 2012, ela caíra para 3,4 milhões de km².
Editoria de Arte/Folhapress |
O segundo ponto a atentar é a elevação do nível do mar. vAssim como ocorre com a atmosfera, o efeito estufa também esquenta o oceano. Isso expande seu volume, que também aumenta com o derretimento de geleiras sobre terra firme (como as da Groenlândia).
No caso do "Quarto Relatório de Avaliação", de 2007, o IPCC terminou acusado de ser conservador demais na projeção de que o mar se elevaria entre 18 cm e 59 cm até o ano 2100, pois alguns estudos já indicavam mudanças de até mais de 1 m.
Tudo indica que o limite superior da nova previsão do painel deve chegar perto disso (versões preliminares apontam até 97 cm). Seria o suficiente para inundar as moradias de dezenas de milhões de pessoas no mundo.
O número, sozinho, parecerá alarmante para muitas pessoas. Pode ou não vir acompanhado, na sua divulgação, de ponderações sóbrias-- como assinalar o prazo de 86 anos (de 2014 a 2100) disponível para adaptação.
Se não contornarem com muita habilidade essas armadilhas, os cientistas e porta-vozes do IPCC se arriscam a desperdiçar a oportunidade de recompor sua credibilidade como corpo científico e vê-lo, mais uma vez, desqualificado como militante da causa alarmista.
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